Barroso perde encontro nos EUA após sanções de Trump

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, decidiu não viajar aos Estados Unidos para participar presencialmente do tradicional encontro anual de juízes de Supremas Cortes, promovido pela Universidade de Yale. A informação foi divulgada pela Veja neste sábado (13).

A ausência de Barroso quebra uma tradição de mais de uma década, em que o ministro sempre marcou presença em debates internacionais sobre justiça, constitucionalismo e democracia. Neste ano, o evento tem como tema central justamente a “Erosão da democracia e ameaças às instituições judiciais” — um assunto que também domina a pauta brasileira neste momento.

Apesar de não haver nenhuma confirmação oficial sobre eventual suspensão ou revisão de seu visto pelo governo norte-americano, Barroso optou por participar virtualmente das discussões. Segundo ele, a decisão foi motivada pela necessidade de permanecer no Brasil para acompanhar de perto os desdobramentos do julgamento da tentativa de golpe de Estado, que resultou na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus, na última quinta-feira (11).

Pronunciamento pós-julgamento

Logo após a sessão histórica no STF, Barroso fez um pronunciamento destacando o peso institucional do julgamento:

“O tribunal cumpriu missão importante e histórica de julgar, com base em evidências às quais todos têm acesso, importantes autoridades civis e militares pela tentativa de golpe de Estado. Ninguém sai hoje daqui feliz. Mas a gente deve cumprir com coragem e serenidade as missões que a vida nos dá. É por isso mesmo que eu estou aqui”, afirmou.

O ministro ainda acrescentou:

“Acredito que nós estejamos encerrando os ciclos do atraso na história brasileira, marcados pelo golpismo e pela quebra da legalidade constitucional. Sou convencido que algumas incompreensões de hoje irão se transformar em reconhecimento futuro.”

Tensão diplomática e especulações

A decisão de Barroso ocorre em meio a um cenário de tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos, agravado por episódios recentes envolvendo ministros do STF. Entre eles, está a repercussão negativa da fala do ministro Flávio Dino sobre o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, aliado próximo do presidente norte-americano Donald Trump.

Nos bastidores, circulam especulações sobre possíveis sanções diplomáticas e restrições de visto a autoridades brasileiras envolvidas nos julgamentos relacionados ao 8 de janeiro, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade de viagens oficiais aos EUA por parte de membros do STF.

Apesar de ainda não haver nenhuma confirmação formal sobre restrições à entrada de ministros brasileiros nos Estados Unidos, a opção de Barroso por participar remotamente do evento foi interpretada por analistas como um movimento cauteloso diante do cenário geopolítico delicado.

Evento em Yale e o simbolismo da ausência

O encontro em Yale, considerado um dos fóruns jurídicos mais prestigiados do mundo, reúne anualmente ministros de Cortes Constitucionais e Supremas de diversas democracias. A ausência física de Barroso tem um peso simbólico, sobretudo considerando o tema do evento, que toca diretamente em preocupações contemporâneas vividas pelo Brasil.

Barroso, conhecido por sua atuação em defesa do Estado de Direito e das instituições democráticas, continuará contribuindo com o debate — ainda que à distância — em um momento em que o próprio papel do Judiciário brasileiro no combate ao extremismo político tem sido amplamente debatido dentro e fora do país.

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Bruno Rigacci

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