Enfim, Ciro Nogueira revela o motivo de se recusar a assinar impeachment de Moraes

Em meio à escalada de tensões entre Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do Progressistas e ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, afirmou nesta quarta-feira (6) que não assinará o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

A declaração foi dada durante entrevista à CNN Brasil e veio em momento crucial, quando opositores tentam atingir o número mínimo de 41 assinaturas para que o pedido avance no Senado. Apesar do avanço da mobilização — que já reuniu 39 apoios — Ciro avalia que não há viabilidade política real para que o processo prospere.

Sinceramente, só entro em impeachment quando puder acontecer, como foi o caso da Dilma. O Congresso não tem 54 senadores para aprovar um impeachment”, afirmou.

Realismo político e resistência à pressão popular

A fala de Ciro Nogueira representa um freio no entusiasmo de setores bolsonaristas, que vêm utilizando as redes sociais para pressionar senadores do Centrão a se engajarem na tentativa de afastar Moraes, apontado como responsável por decisões “arbitrárias” e “autoritárias” — especialmente após a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Grupos conservadores vêm promovendo campanhas de cobrança pública, inclusive com a publicação de listas com os nomes dos senadores indecisos ou ausentes do movimento. A postura de Ciro revela, porém, a persistência de uma visão pragmática nos bastidores do Congresso, onde muitos avaliam que o impeachment de um ministro do STF ainda esbarra em um “muro político” difícil de transpor, mesmo com o desgaste crescente da Corte.

Obstrução, sim. Impeachment, não.

Apesar de recusar a assinatura no requerimento de impeachment, Ciro confirmou que os partidos Progressistas (PP) e União Brasil devem seguir alinhados à estratégia de obstrução legislativa, como forma de protesto contra a atuação do STF.

Vamos protestar, sim, com as ferramentas que o Parlamento tem. Mas é preciso ter responsabilidade. Impeachment não é palanque, é instrumento extremo que só deve ser usado quando for viável politicamente”, disse o senador a interlocutores.

A obstrução já vinha sendo articulada por blocos da direita e centro-direita desde o início da semana e se intensificou com as manifestações populares do último domingo e com a prisão de Bolsonaro. A paralisação dos trabalhos legislativos é considerada uma forma de pressionar a cúpula do Congresso e o Supremo, sem, no entanto, comprometer capital político em iniciativas consideradas improváveis de sucesso.

Reações divergentes

A declaração de Ciro Nogueira gerou repercussão imediata entre seus aliados e críticos. Enquanto setores do Centrão e da cúpula do Senado enxergam na postura do senador uma demonstração de pragmatismo e liderança responsável, parte da oposição e de apoiadores mais radicais do ex-presidente Bolsonaro viram a decisão como uma espécie de traição à mobilização conservadora.

Nas redes sociais, influenciadores e deputados da base bolsonarista voltaram a pressionar: “Quem não assina o impeachment, compactua com os abusos”, escreveu um deles.

Análise

A decisão de Ciro reforça uma leitura consolidada no Congresso: sem consenso político, o impeachment de um ministro do STF não avança — por mais inflamado que esteja o clima externo. A articulação pela obstrução, por outro lado, permite manter a pressão e sinalizar descontentamento, sem correr riscos institucionais maiores.

Enquanto a temperatura sobe nas ruas e no Parlamento, os bastidores continuam operando com cautela calculada, cientes de que o jogo político é feito mais de números que de indignação.

Ciro Nogueira escolheu a via do cálculo, não do confronto — por enquanto.

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Bruno Rigacci

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