Alckmin “chora”
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou nesta terça-feira (15) que o governo brasileiro ainda não recebeu resposta oficial da Casa Branca a uma carta enviada há dois meses com propostas de entendimento sobre as primeiras tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
Segundo Alckmin, o documento foi encaminhado de forma confidencial a pedido das autoridades americanas e incluía sugestões técnicas para evitar o agravamento da tensão comercial entre os dois países. No entanto, até agora, Washington permanece em silêncio.
“Teve sempre diálogo. Enviamos a carta, com propostas de negociação, até o dia 4 de julho, que é feriado lá. Houve até uma reunião técnica, mas não tivemos nenhuma resposta até agora”, declarou Alckmin após encontro com representantes da indústria nacional, realizado em Brasília.
A reunião foi convocada às pressas diante da crescente preocupação com o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente Donald Trump, que entrará em vigor em 1º de agosto. As novas sanções ampliam o escopo das medidas anteriores e atingem setores estratégicos da economia brasileira, incluindo agricultura, siderurgia e manufaturas.
Brasil prepara nova tentativa de diálogo
Diante da ausência de retorno dos EUA, o governo brasileiro já articula o envio de uma nova comunicação, reiterando seu interesse em solucionar o impasse por meio do diálogo. O tom cauteloso, no entanto, tem sido interpretado por críticos como um sinal de fraqueza.
“É um arrego histórico. Lula prometia enfrentamento direto com Trump, mas agora a estratégia parece ser baixar a cabeça e torcer por uma resposta cordial”, afirmou um analista político sob condição de anonimato.
Silêncio americano, pressão interna
O clima é de crescente frustração entre empresários brasileiros. A falta de resposta por parte dos Estados Unidos tem dificultado o planejamento de setores que dependem fortemente das exportações. Representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) cobraram do governo federal uma postura mais firme e, ao mesmo tempo, medidas de contingência para mitigar os danos.
“O impacto pode ser devastador. Não podemos esperar sentados. Precisamos de reação, não só de notas diplomáticas”, declarou um executivo do setor de agronegócio presente na reunião.
Contexto tenso
As tarifas impostas por Trump foram justificadas pelo presidente americano como retaliação às ações do Supremo Tribunal Federal contra Jair Bolsonaro e à alegada censura de plataformas digitais nos EUA com base em decisões da Justiça brasileira. O subsecretário de Estado, Darren Beattie, chegou a ameaçar novas sanções e zombou do STF, chamando-o de “Supremo Tribunal de Moraes”.
O cenário coloca o governo brasileiro em um dilema: reagir de forma dura e correr o risco de escalada diplomática, ou seguir buscando canais de negociação com uma administração americana pouco inclinada ao multilateralismo.
Com o tempo correndo e a tarifa prestes a entrar em vigor, a pressão sobre Brasília aumenta. E, por ora, a única resposta de Washington é o silêncio.