Vaza a reação de aliados de Lula com o levante de Trump
A recente declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi recebida com alívio e até entusiasmo nos bastidores do Palácio do Planalto. Segundo integrantes do governo e aliados próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o gesto de Trump — que chamou as investigações contra Bolsonaro de “caça às bruxas” — é visto como um “presente político”.
Para ministros com influência no núcleo político do governo, o apoio explícito de Trump reforça a narrativa de ingerência externa nos assuntos internos do Brasil, algo que historicamente provoca reações negativas no eleitorado brasileiro. “Ele fez um favor. O povo adora intromissão, né? Onde ele se meteu, o que ocorreu? Perdeu”, ironizou um ministro petista, sob condição de anonimato.
A fala de Trump, que antecedeu a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e foi acompanhada de críticas à participação do Brasil na cúpula do Brics, gerou apreensão em setores diplomáticos, mas, politicamente, foi interpretada como um “tiro no pé” por parte do campo bolsonarista.
“A ligação com Trump reforça a imagem de Bolsonaro como alguém alinhado a interesses estrangeiros, o que é um ponto fraco na percepção pública. Isso nos ajuda”, avaliou um assessor próximo a Lula.
Trump afirmou estar monitorando de perto a cúpula do Brics realizada no Brasil e considerou o bloco uma ameaça aos interesses dos Estados Unidos. Segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, o presidente americano julga inaceitável a postura do Brics e, por isso, decidiu reagir com medidas econômicas — incluindo a nova tarifa sobre exportações brasileiras.
A retaliação econômica e o gesto de solidariedade a Bolsonaro acontecem em meio a uma intensificação das críticas internacionais ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, particularmente, ao ministro Alexandre de Moraes. O movimento vem sendo articulado por parlamentares republicanos nos EUA, como a deputada María Elvira Salazar, aliada de Eduardo Bolsonaro.
Apesar da retórica pública de confiança, membros do governo reconhecem que o momento é delicado e que “a conta chegou”, referindo-se à necessidade de reagir com firmeza à tentativa de internacionalizar o debate sobre as instituições brasileiras.
A resposta oficial do governo Lula à carta de Trump e à tarifa imposta ainda está sendo elaborada pelo Itamaraty. Nos bastidores, o Planalto tenta manter uma posição de cautela diplomática, mas aliados políticos já trabalham para explorar o episódio como evidência de que Bolsonaro está recorrendo a apoio externo por não ter mais sustentação interna.