Lula faz “desaforo” a Milei em Buenos Aires

A Cúpula do Mercosul, marcada para os dias 6 e 7 de julho em Buenos Aires, será realizada sob um clima político delicado. A presença do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na capital argentina promete repercutir além dos temas econômicos e comerciais do bloco. A possível visita do petista à ex-presidente Cristina Kirchner, condenada por corrupção, é vista por analistas como um gesto provocativo e que pode acirrar ainda mais a já tensa relação entre Lula e o presidente argentino Javier Milei.

Segundo informações de bastidores, o Itamaraty teria tentado dissuadir o presidente brasileiro de realizar o encontro com Cristina, considerado um gesto de afronta ao atual governo argentino. No entanto, os apelos diplomáticos teriam sido ignorados, prevalecendo a orientação política de conselheiros ligados ao núcleo duro do PT.

A visita, ainda não confirmada oficialmente pela comitiva presidencial, é tratada como um gesto de solidariedade política à ex-presidente peronista, que foi condenada por corrupção em 2022 e a quem Lula considera vítima de perseguição judicial — em linha com o discurso de “lawfare” que o PT defende desde a operação Lava Jato.

Críticas à postura brasileira

O jornalista Mario Sabino, em artigo publicado no site Metrópoles, criticou duramente a postura de Lula. Para ele, o presidente estaria promovendo um “desaforo diplomático” ao governo Milei:

“Consta que o Itamaraty, sempre tão capacho, tentou demover Lula da ideia de fazer o desaforo. Não teve êxito. Venceram os maus conselheiros do PT”, afirmou.
“A visita de Lula tem também outro movente: dar um tapa na cara da Justiça argentina. Julga que Cristina Kirchner, coitada, foi perseguida injustamente, assim como ele próprio.”

Sabino ainda acusou o presidente brasileiro de alimentar uma narrativa de vitimização da esquerda latino-americana e sugeriu que a iniciativa apenas reforça divisões políticas e ideológicas no continente.

Impacto no Mercosul

A relação entre Lula e Milei já vinha estremecida desde antes da posse do presidente argentino, que chegou a fazer duras críticas ao petista durante sua campanha. Lula, por sua vez, não compareceu à cerimônia de posse de Milei, rompendo com a tradição diplomática da região. O gesto foi interpretado como um sinal de distanciamento entre os dois líderes.

A tensão pessoal pode afetar as negociações dentro do Mercosul, especialmente em temas como a ampliação de acordos comerciais, integração regional e cooperação econômica. O Brasil e a Argentina são os dois principais motores do bloco, e um alinhamento político precário pode comprometer o avanço de pautas estratégicas.

Milei deve manter silêncio oficial, mas redes prometem resposta

Embora o governo argentino não deva se pronunciar oficialmente sobre a visita de Lula a Kirchner, fontes próximas ao Palácio da Casa Rosada indicam que o episódio não será ignorado. A expectativa é que o próprio Milei ou figuras de seu entorno utilizem as redes sociais para fustigar Lula e reforçar o contraste ideológico entre os dois líderes.

Enquanto Milei se projeta internacionalmente como símbolo de um novo liberalismo radical, com duras críticas ao estatismo e ao peronismo, Lula tenta resgatar a aliança das esquerdas latino-americanas — mesmo que isso signifique atritos com governos eleitos democraticamente, porém de orientação oposta.

A Cúpula do Mercosul, portanto, será palco não apenas de negociações econômicas, mas de um embate simbólico entre dois projetos ideológicos em rota de colisão no cenário sul-americano.

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Bruno Rigacci

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