Claudia Leitte passa recado “evangélico” e entra em nova polêmica com gays
Enquanto artistas consagrados como Caetano Veloso parecem navegar com tranquilidade por temas sensíveis e posicionamentos públicos, outros nomes do entretenimento brasileiro enfrentam uma vigilância implacável. Claudia Leitte é, sem dúvida, um desses casos.
A cantora baiana voltou a ser alvo de críticas nas redes sociais, desta vez por uma declaração feita durante a Micareta da San, evento voltado para o público LGBTQIA+, realizado na última quinta-feira (19), em São Paulo. No meio de sua apresentação, do alto do trio elétrico, Claudia afirmou:
“Muito gay, muito gay, a evangê aqui adora um viado.”
A frase viralizou e provocou uma avalanche de reações — muitas delas negativas. Parte do público acusou a artista de oportunismo e tentativa de agradar uma comunidade com a qual, segundo críticos, ela não teria uma relação genuína. O passado recente da cantora, marcada por especulações de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, também foi resgatado por internautas para questionar a autenticidade de sua fala.
O Caso “Caranguejo” e o Peso das Escolhas
Vale lembrar que, no início do ano, Claudia já havia sido alvo de polêmica ao alterar a letra da música “Caranguejo”, substituindo a referência a Iemanjá por uma menção a Jesus (“Yeshua”). A mudança foi vista por muitos como desrespeitosa às religiões de matriz africana e abriu mais um capítulo no debate sobre intolerância religiosa e liberdade artística.
Na ocasião, a cantora disse que sua escolha refletia sua fé pessoal, mas a crítica foi dura: muitos viram no ato uma tentativa de “apagar” símbolos afro-brasileiros em um país historicamente marcado pelo racismo religioso.
Perseguição ou Incoerência?
A pergunta que fica é: Claudia Leitte está sendo perseguida ou apenas colhe os frutos de uma série de decisões públicas contraditórias?
De um lado, é possível argumentar que há, sim, uma seletividade em como o público reage a determinados artistas. Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros nomes da MPB falam abertamente sobre religião, política e identidade sem gerar o mesmo nível de revolta — fruto, talvez, de uma carreira mais consistente em seus posicionamentos e alinhamentos.
Do outro, Claudia parece tentar agradar a todos — evangélicos, LGBTs, bolsonaristas e progressistas — e acaba desagrando justamente pela falta de firmeza. Em tempos de polarização, o “em cima do muro” não é mais visto com bons olhos.
Liberdade de Expressão e Responsabilidade Pública
Artistas têm, e devem ter, liberdade para expressar suas crenças e afetos. Mas também precisam estar preparados para as reações — especialmente quando transitam entre grupos com histórias de exclusão e resistência.
Claudia Leitte tem o direito de cantar Yeshua e dizer que “adora um viado”. O público, por sua vez, tem o direito de questionar, reagir e cobrar coerência. No fim das contas, a liberdade de expressão também envolve a liberdade de resposta.