Estadão surpreende e ergue a voz contra novo absurdo de Lula
Uma visita presidencial ao sertão nordestino reacendeu o debate sobre o uso de discursos simbólicos na política. Durante cerimônia na estação de bombeamento EBI-3, em Pernambuco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exaltou a entrega de uma das etapas das obras de transposição do Rio São Francisco, prometida há quase dois séculos, e se referiu a si mesmo como um “enviado de Deus” para levar água ao semiárido. A fala, de forte carga emocional e religiosa, foi criticada em editorial publicado por O Estado de S. Paulo, que classificou o presidente como um “profeta de araque”.
Segundo o jornal, a postura de Lula representa uma tentativa de “ressignificar” sua imagem e reviver o carisma político diante de índices de popularidade considerados preocupantes. O texto sugere que o presidente utiliza eventos públicos com plateias alinhadas para construir uma narrativa de protagonismo sobre projetos de longa data, enquanto seu governo enfrentaria dificuldades práticas de gestão.
“Água é vida, mas no mundo de Lula da Silva, água é, acima de tudo, voto”, diz o editorial.
“Como não governa, Lula da Silva faz comícios, caçando votos antes da hora e posando de messias.”
Críticas à estratégia política
O Estadão sustenta que o atual governo tem apostado na personalização de obras de infraestrutura iniciadas há décadas — muitas das quais atravessaram gestões de diferentes partidos — como forma de colher capital político. A crítica central do editorial recai sobre o que o jornal descreve como uma “retórica maniqueísta e simbólica”, na qual o presidente busca, segundo a análise, posicionar-se como salvador e, ao mesmo tempo, contrapor-se a inimigos políticos, especialmente da direita.
Em tom ácido, o texto ironiza o uso repetido de expressões religiosas, citando levantamento que aponta o uso das palavras “Deus” e “milagre” ao menos 27 vezes durante a visita. Para o jornal, essa linguagem serviria para criar uma “aura de milagreiro” em meio a um cenário de estagnação econômica, desarticulação política e pressões institucionais.
“Lula, diria Santo Tomás de Aquino, quer fazer crer que seu governo está no terreno do mistério. Mas não há mistério nenhum: o PT, que ocupou o poder por 15 dos últimos 22 anos, já demonstrou ser incapaz de realizar os milagres que seu profeta de fancaria anuncia”, afirma o editorial.
Reações e contexto
Aliados do presidente defendem que sua fala reflete o simbolismo histórico da chegada da água ao sertão, região há muito marcada por escassez hídrica e abandono. Para setores do governo, a visita representa o cumprimento de promessas feitas à população nordestina, onde Lula mantém base de apoio tradicionalmente sólida.
Críticos, no entanto, veem no gesto uma antecipação da campanha eleitoral de 2026, com uso de recursos simbólicos para mobilizar o eleitorado. O debate reacende discussões sobre a separação entre discurso institucional e propaganda política, especialmente quando envolve temas sensíveis como fé, pobreza e infraestrutura.