Jovem leva bebê reborn a UPA e mobiliza profissionais de saúde na Bahia
Um episódio inusitado, ocorrido na noite do último domingo (18), chamou a atenção de moradores e profissionais de saúde de Guanambi, no centro-sul da Bahia. Uma jovem de 25 anos procurou atendimento de emergência para um bebê reborn, acreditando que a boneca estaria sentindo “muita dor”. O caso foi confirmado pela prefeitura do município e trouxe à tona discussões importantes sobre saúde mental e acolhimento humanizado.
Urgência, confusão e identificação do caso
Segundo relatos, a jovem solicitou uma corrida por aplicativo por volta das 23h, pedindo urgência ao motorista. Ao chegar à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), insistiu em atendimento imediato para a suposta criança. O alarme gerado pela situação foi esclarecido por uma senhora que aguardava atendimento e reconheceu que se tratava de um boneco hiper-realista, ao levantar o paninho que cobria seu rosto.
“Era uma criança bem realista, só reconheci depois que levantei o paninho do rosto. Conheço toda a família, pessoas dignas e empresários locais. Fomos vizinhos e sei da situação de saúde dela, que sofre com problemas de depressão e saiu de casa sem o conhecimento de todos”, relatou a testemunha à prefeitura.
A equipe da UPA não chegou a realizar atendimento médico, mas registrou o fato e encaminhou o relato à direção da unidade.
Contexto familiar e busca por apoio psicológico
De acordo com os familiares, a jovem adquiriu o bebê reborn há cerca de um mês, por R$ 2,8 mil, em uma compra realizada pela internet. A família confirmou que ela enfrenta um quadro de depressão e que já está em busca de acompanhamento especializado em saúde mental.
O motorista do aplicativo relatou que só percebeu a real situação quando levou a passageira de volta para casa, sendo recebido por seus pais e irmão, visivelmente preocupados com seu estado emocional.
Bebês reborn: terapia, afeto e alerta
Bonecos do tipo reborn são confeccionados artesanalmente com altíssimo grau de realismo. Utilizados em contextos terapêuticos, principalmente em casos de luto gestacional ou como estratégia de suporte emocional para pessoas idosas e com demência, esses bonecos também podem despertar vínculos afetivos intensos e, em alguns casos, disfuncionais.
O uso crescente desses objetos hiper-realistas tem provocado discussões no campo jurídico e legislativo. Projetos de lei em tramitação em câmaras municipais e assembleias estaduais propõem regulamentações sobre o uso de bebês reborn em serviços públicos, incluindo:
Multas para uso indevido ou simulação de emergência;
Encaminhamento obrigatório para atendimento psicológico em casos extremos;
Acolhimento psicossocial em unidades de saúde e assistência social.
Reflexão sobre o acolhimento
Para especialistas em saúde mental, o episódio evidencia a importância de treinar equipes médicas e assistenciais para identificar e acolher, com empatia, situações que envolvem sofrimento psíquico. O desafio, segundo eles, é garantir uma resposta que respeite a dignidade da pessoa, sem julgamento, ao mesmo tempo em que se oferece apoio clínico adequado.
“Não se trata apenas de um mal-entendido. É uma expressão clara de um sofrimento que precisa ser ouvido com responsabilidade”, explica a psicóloga clínica Andréa Lemos.
Encaminhamentos
A Secretaria Municipal de Saúde de Guanambi informou que está acompanhando o caso em conjunto com os familiares e que a jovem será encaminhada para avaliação psiquiátrica e psicossocial. O caso deve ser usado como base para a criação de um protocolo local de atendimento a situações semelhantes.