Exército Brasileiro perde 1,7 milhão de seguidores nas redes sociais desde da posse de Lula
Desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em janeiro de 2023, o Exército Brasileiro tem enfrentado uma queda acentuada de engajamento nas redes sociais. Em pouco mais de um ano, a instituição perdeu cerca de 1,7 milhão de seguidores, evidenciando uma crise de imagem pública sem precedentes no ambiente digital.
Em contraste, Marinha e Aeronáutica registraram crescimento expressivo em suas plataformas sociais — como Instagram, X (antigo Twitter) e Facebook — indicando uma mudança significativa na percepção pública sobre cada uma das Forças Armadas.
Fatores políticos e institucionais explicam a queda
A queda de popularidade do Exército ocorre em um contexto político e institucional sensível. Os eventos de 8 de janeiro de 2023, marcados pela invasão e depredação das sedes dos Três Poderes por extremistas bolsonaristas, colocaram as Forças Armadas sob escrutínio público intenso. Relatos e investigações sugeriram omissão ou leniência de membros do Exército diante das ações golpistas — suspeitas que, embora oficialmente negadas, impactaram a confiança da população.
Enquanto isso, Marinha e Aeronáutica mantiveram-se mais distantes das tensões políticas, com foco em temas técnicos e missões institucionais. Esse posicionamento mais neutro contribuiu para preservar sua imagem pública e impulsionar seu engajamento digital.
Disputa por narrativa no ambiente digital
O cenário atual nas redes revela que as instituições militares não são mais vistas de forma homogênea pela sociedade. O público parece agora distinguir claramente entre as posturas adotadas por cada força. O Exército, mais associado ao envolvimento político durante e após o governo Bolsonaro, viu sua reputação digital ser corroída, enquanto as outras forças conseguiram capitalizar sobre uma imagem mais institucional.
Essa diferença também reflete investimentos distintos em comunicação digital. Marinha e Aeronáutica passaram a produzir conteúdos mais atrativos, como vídeos educativos, ações de resgate, operações internacionais e campanhas ligadas à tecnologia e ciência militar — conquistando o interesse das novas gerações e ampliando o alcance de suas mensagens.
Fortalecimento da presença digital civil
O governo federal, por sua vez, tem ampliado significativamente sua presença nas redes. Diversos ministérios aumentaram seus seguidores e engajamento, adotando estratégias de transparência e prestação de contas, o que atraiu parte do público anteriormente mais conectado às instituições militares.
Essa reconfiguração da confiança pública sinaliza um momento de inflexão: a população parece se aproximar mais das instituições civis e democráticas, ao passo que se distancia das entidades percebidas como politizadas ou omissas em momentos críticos.
Redes sociais como espelho da democracia
Mais do que uma disputa por curtidas ou seguidores, o comportamento do público nas redes sociais funciona como um termômetro político e institucional. Quando uma instituição como o Exército perde milhões de seguidores, o dado revela mais do que um problema de comunicação: expõe uma crise de legitimidade perante uma sociedade cada vez mais conectada, crítica e politicamente ativa.
Em um país onde as redes sociais têm poder de moldar a opinião pública, a confiança digital se converte em capital simbólico e político. Perder esse ativo pode representar dificuldades não só de imagem, mas também de influência.
Desafio: reconquistar a confiança da sociedade
A queda de engajamento do Exército não configura, por si só, uma crise institucional profunda. Mas é um alerta. Para reverter essa tendência, a instituição precisará reafirmar seu compromisso com a Constituição, adotar uma postura clara de neutralidade política e refinar sua comunicação pública.
O caminho passa por transparência, profissionalismo e distanciamento de disputas ideológicas. Reconstruir a imagem institucional é essencial para que o Exército retome seu papel central na democracia brasileira — não como ator político, mas como garante da soberania e da ordem constitucional.