Planalto avalia que caso Janja “ofuscou” agenda do governo na China
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, entre os dias 12 e 14 de maio de 2025, tinha todos os elementos para se consagrar como um marco nas relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e China. Com mais de 20 acordos bilaterais assinados, a missão visava consolidar o Brasil como um parceiro estratégico no cenário asiático. No entanto, uma fala da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, acabou desviando parte da atenção pública dos avanços obtidos, provocando uma crise interna no Palácio do Planalto.
Avanços estratégicos com a China
Durante os três dias de agenda oficial, Lula e o presidente chinês, Xi Jinping, formalizaram parcerias em áreas consideradas prioritárias pelos dois países: infraestrutura, agricultura, meio ambiente, tecnologia e comércio. Entre os destaques estão:
Ampliação das exportações agropecuárias brasileiras;
Cooperação em energia limpa e sustentabilidade;
Investimentos chineses em obras de infraestrutura, como portos e ferrovias;
Acordos tecnológicos nas áreas de digitalização, inteligência artificial e inovação.
Segundo o Palácio do Planalto, a missão diplomática foi bem-sucedida e reforça a política externa do governo Lula, que busca fortalecer o protagonismo do Brasil no Sul Global e diversificar parcerias estratégicas.
Missão com objetivos claros
O presidente chegou à China com uma agenda clara: atrair novos investimentos, aumentar o intercâmbio comercial e consolidar o papel do Brasil como interlocutor de peso entre países em desenvolvimento. Além disso, a viagem serviu para promover as políticas ambientais brasileiras e buscar apoio internacional para projetos de transição energética.
O episódio do TikTok e a fala de Janja
Apesar do saldo positivo, um episódio chamou atenção e gerou desconforto. Durante um jantar oficial com Xi Jinping, a primeira-dama Janja teria feito críticas ao TikTok — empresa de origem chinesa —, associando a plataforma a impactos negativos sobre a juventude brasileira.
A declaração, revelada pela jornalista Andreia Sadi (GloboNews), foi considerada inoportuna por diplomatas presentes no encontro. Em um ambiente formal, a crítica a uma empresa estratégica para a China foi interpretada como um deslize político. A reação foi imediata, dividindo opiniões entre aliados do governo e gerando críticas da oposição.
Suspeitas de vazamento e tensão no Planalto
A crise ganhou novos contornos quando surgiram rumores de que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, teria sido o responsável pelo vazamento da fala de Janja. A acusação provocou indignação no ministro, que cogitou fazer um pronunciamento público para se defender. No entanto, foi dissuadido por aliados e pelo chefe da Secom, Sidônio Palmeira.
O próprio presidente Lula tentou minimizar os danos, afirmando que o tema foi inicialmente levantado por ele, e não por Janja, embora tenha admitido a participação da esposa no debate.
Internamente, o governo avalia que a controvérsia acabou ofuscando os ganhos diplomáticos da viagem. A crise também escancarou tensões entre ministros e acentuou o debate sobre os limites do protagonismo da primeira-dama nas agendas internacionais.
A influência de Janja no governo
Desde o início do terceiro mandato de Lula, Janja tem adotado uma postura ativa. Ela participa de eventos oficiais, acompanha o presidente em viagens e defende pautas sociais, culturais e ambientais. Sua atuação divide opiniões: enquanto setores da base a elogiam, opositores acusam interferência em áreas de governo.
O episódio na China reacendeu esse debate. Para aliados mais pragmáticos, é preciso cautela. A orientação agora é reforçar a comunicação institucional e manter o foco nos resultados concretos da política externa.
Considerações finais
A visita de Lula à China reafirmou o compromisso do Brasil com uma diplomacia ativa, multilateral e voltada ao desenvolvimento sustentável. No entanto, o incidente envolvendo a primeira-dama mostrou como gestos simbólicos e declarações públicas podem ter peso decisivo na arena internacional.
Mais do que administrar crises, o desafio do governo será garantir que futuras missões tenham foco total nos objetivos diplomáticos. Enquanto isso, Janja permanece como figura central do governo: admirada por uns, criticada por outros, mas cada vez mais presente — e influente — no cenário político nacional.