Sindicato do IBGE repudia mapa invertido com Brasil no centro

O lançamento de um mapa-múndi invertido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que coloca o Brasil no centro e o sul na parte superior, provocou forte reação da Associação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE-SN). Em nota pública, a entidade classificou a iniciativa como uma “encenação simbólica” sem respaldo técnico e um atentado à credibilidade construída pela instituição ao longo de décadas.

O novo mapa, apresentado recentemente pelo presidente do IBGE, Márcio Pochmann, foi descrito como uma forma de destacar a “liderança do Brasil em fóruns internacionais”, como o Brics, o Mercosul e a COP30, evento climático que será sediado no Brasil em novembro. Em postagem nas redes sociais, Pochmann defendeu que a proposta busca valorizar o protagonismo internacional brasileiro.

Entretanto, o sindicato vê a medida como perigosa e artificial. “Não se combate a realidade com ilusões gráficas. Colocar o Brasil no centro do mapa não resolve nada — e pode, inclusive, enfraquecer a seriedade de um projeto nacional que busca enfrentar, e não ocultar, os desafios que temos pela frente”, afirma o texto assinado pelo núcleo sindical do Complexo Chile/Horto.

A nota, intitulada “Manifesto pela Integridade Técnica do IBGE”, vai além da crítica cartográfica. O documento acusa a atual gestão de promover um “uso político, simbólico e personalista” do órgão técnico de Estado, apontando um padrão de conduta já observado em outros episódios, como o prefácio politizado na publicação Brasil em Números 2024, assinado pela governadora de Pernambuco, Raquel Lyra.

O manifesto também levanta preocupações sobre possíveis violações de princípios constitucionais da administração pública, incluindo:

  • Finalidade administrativa, ao utilizar o IBGE para fins simbólicos;

  • Impessoalidade, ao associar produtos técnicos a narrativas de governo;

  • Moralidade administrativa, pelo uso indevido de recursos públicos;

  • E eficiência, ao comprometer a compreensão pedagógica e a validade internacional dos dados.

Servidores têm acusado Pochmann de aparelhar o IBGE, adotar posturas autoritárias e desrespeitar o corpo técnico da instituição. Ele assumiu a presidência do órgão em julho de 2023, por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A controvérsia reacende o debate sobre os limites entre comunicação simbólica e rigor técnico em órgãos de Estado. Para o sindicato, “nenhum país se torna mais respeitado por estar no centro de um papel. A grandeza internacional se conquista com políticas públicas consistentes, instituições confiáveis e dados transparentes”.

Até o momento, nem o IBGE nem o Palácio do Planalto se manifestaram oficialmente sobre as críticas.

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Bruno Rigacci

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