Ex-chanceler Celso Lafer critica viagem de Lula à Rússia: “Não é inteligente”
O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer criticou nesta sexta-feira (9) a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de participar, em Moscou, das comemorações do Dia da Vitória, evento tradicional que marca a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial e tem grande peso simbólico para o governo de Vladimir Putin.
Em entrevista à Rádio Eldorado, Lafer classificou a presença de Lula como “não inteligente”, especialmente diante do atual cenário geopolítico. “Significa desconsiderar a prevalência dos direitos humanos, princípio que está na Constituição brasileira”, afirmou o diplomata, que chefiou o Itamaraty nos governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso.
A cerimônia russa ocorre em meio à guerra com a Ucrânia, iniciada em 2022 e amplamente condenada por parte significativa da comunidade internacional. Embora o Brasil mantenha oficialmente uma posição de neutralidade no conflito, a participação de Lula em um evento de alto teor militar ao lado de Putin é interpretada por analistas e diplomatas como um gesto político de aproximação, com possíveis repercussões negativas para a imagem brasileira no exterior.
A crítica de Lafer ecoa preocupações crescentes no meio diplomático, que observa a visita com cautela. O Brasil, que sediará a COP30 — a conferência climática da ONU — em novembro, tem buscado fortalecer seu papel como defensor da paz, do multilateralismo e dos direitos humanos. Para o ex-chanceler, comparecer a um evento sob liderança de um governante acusado de crimes de guerra “compromete essa narrativa”.
Nas redes sociais, a visita gerou reações polarizadas. Aliados do governo defendem que a viagem faz parte de uma política externa soberana e multipolar, voltada à construção de pontes com diferentes nações. Já opositores acusam o presidente de enfraquecer a posição diplomática do Brasil e de relativizar princípios fundamentais, como o respeito à soberania e aos direitos humanos.
Até o momento, nem o Itamaraty nem o Palácio do Planalto comentaram oficialmente as declarações de Celso Lafer.