Secretário do RJ cobra governo federal por não classificar Comando Vermelho como grupo terrorista

O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, delegado Victor Santos, criticou duramente o governo federal por sua resistência em classificar o Comando Vermelho (CV) como uma organização terrorista. Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (8), após a prisão de Celsinho da Vila Vintém — apontado como um dos chefes da facção Amigos dos Amigos (ADA) —, o secretário denunciou o que considera omissão de Brasília diante da escalada da violência no estado.

“O governo federal não poderia falar sobre um assunto que talvez nem conheça, porque não conhece a realidade do Rio de Janeiro, porque não quer. A realidade do Rio é conhecida por todos aqueles que moram aqui”, afirmou Santos.

Facções em guerra e alianças estratégicas

A prisão de Celsinho ocorreu no contexto de uma suposta aliança entre a ADA e o Comando Vermelho, para ampliar o domínio territorial na zona oeste do Rio. Segundo Santos, o CV adota práticas que remetem a organizações terroristas internacionais, com ataques diretos ao Estado, imposição de “leis próprias” nas comunidades e ações de extrema violência contra civis.

“O CV hoje é a facção que mais enfrenta o Estado, e nós vamos continuar defendendo, sim, que é uma organização criminosa transnacional e terrorista.”

Divergência legal e busca por apoio internacional

Enquanto autoridades do Rio de Janeiro pressionam pela mudança de classificação das facções criminosas, o governo federal argumenta que a legislação brasileira atual não permite enquadrar esses grupos como terroristas, já que a Lei Antiterrorismo exige motivação religiosa, étnica ou ideológica.

Durante encontros recentes com membros do governo Donald Trump, representantes do Ministério da Justiça brasileiro explicaram que Comando Vermelho e PCC, apesar de perigosos, não se encaixam nos critérios legais da lei de terrorismo no Brasil.

Mesmo assim, o governo do Rio aposta no reconhecimento internacional para ampliar sua capacidade de enfrentamento ao crime organizado. Um relatório das inteligências da Polícia Civil e Militar será entregue nos próximos dias ao governo americano. O governador Cláudio Castro (PL), segundo Santos, deve apresentá-lo pessoalmente.

“Com um clique, o governo americano consegue bloquear o dinheiro onde quer que esteja, sob suspeita de ligação com uma organização criminosa e, principalmente, terrorista”, explicou Santos.

Narcoterrorismo e o papel do CV

O secretário da Polícia Civil, delegado Felipe Curi, também presente na coletiva, reforçou a tese de que o CV realiza ações típicas de narcoterrorismo. Segundo ele, os crimes cometidos extrapolam em muito o que se considera criminalidade comum.

“Quem atira a esmo na direção de mulheres grávidas, crianças e trabalhadores para impedir uma operação policial… isso é o quê, senão narcoterrorismo?”, questionou.

“Quem impõe um tribunal do tráfico, julga e executa pessoas diante da comunidade, impede ambulâncias e coleta de lixo… isso é terrorismo.”

Curi também relembrou episódios violentos, como o ocorrido em outubro de 2024, quando criminosos do Complexo de Israel mataram três civis durante uma ofensiva contra a polícia. Segundo ele, a ação foi uma execução deliberada, não um confronto. “Isso é narcoterrorismo”, afirmou.

Cooperação internacional em debate

A pressão do governo do Rio acontece em paralelo a reuniões em Brasília com representantes dos EUA, que discutem acordos de cooperação internacional contra o crime organizado na América Latina. O governo Trump tem defendido que facções como o Comando Vermelho e o Tren de Aragua (Venezuela) sejam enquadradas como organizações terroristas sob a lei americana.

Caso isso se concretize, o estado do Rio poderá acessar recursos, treinamentos, apoio técnico e mecanismos de bloqueio de bens e contas em nível internacional, fortalecendo sua estrutura de combate ao narcotráfico.

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Bruno Rigacci

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