Quem é o cardeal que quer desafiar ordem do papa Francisco no conclave
O cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu, de 76 anos, voltou aos holofotes do Vaticano nesta semana ao reivindicar o direito de participar do conclave que elegerá o próximo papa, após a morte de Francisco, ocorrida no último domingo (21), vítima de um AVC. Becciu, que foi condenado por corrupção e perda de funções no Vaticano, afirma que, apesar da sentença, mantém o título cardinalício e, portanto, a prerrogativa de voto.
Figura influente na cúpula da Igreja Católica durante décadas, Becciu teve uma longa trajetória diplomática desde que ingressou no serviço diplomático do Vaticano em 1984. Atuou em missões papais na África, Oceania, Europa e América, incluindo passagens pela República Centro-Africana, Reino Unido, França, EUA e Cuba. Foi nomeado cardeal em 2018, durante o pontificado de Francisco, e ocupou o cargo de prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
Condenação por corrupção e perda de direitos
A ascensão de Becciu sofreu uma brusca interrupção em 2020, quando surgiram denúncias de desvio de recursos da Igreja para a compra de um prédio de luxo em Londres. O escândalo desencadeou um processo histórico no Vaticano, que resultou, em 2023, em sua condenação a cinco anos e meio de prisão, além de inelegibilidade para cargos públicos e multa de 8 mil euros (cerca de R$ 43 mil).
Em meio ao avanço das investigações, o Papa Francisco aceitou sua renúncia aos direitos cardinais — um gesto simbólico forte dentro da estrutura da Igreja, mas que, segundo Becciu, não foi formalizado de forma a impedir sua participação em um futuro conclave.
Reivindicação e possível retorno
Agora, com a morte de Francisco, o cardeal busca retornar ao cenário vaticano, defendendo sua presença na votação do próximo pontífice. Em entrevista ao jornal italiano Unione Sarda, Becciu afirmou:
“Referindo-se ao último consistório, o papa confirmou minhas prerrogativas cardinais intactas, já que não houve vontade explícita de me excluir do conclave nem solicitação de minha renúncia por escrito.”
A alegação será avaliada pela Congregação Geral dos Cardeais, órgão que se reúne antes do conclave para definir os procedimentos e verificar a elegibilidade dos participantes. A presença de Becciu pode gerar controvérsia entre os cardeais, especialmente diante das acusações de nepotismo e corrupção.
Sinais de benevolência de Francisco
Apesar dos escândalos, Becciu manteve certo prestígio nos círculos internos da Igreja. Em 2021, durante a Semana Santa, o papa Francisco celebrou a Missa da Ceia do Senhor na capela privada do cardeal — um gesto interpretado por muitos como sinal de reconciliação.
Becciu segue afirmando sua inocência e afirma confiar em um suposto indulto tácito por parte de Francisco, o que reforçaria sua elegibilidade para o conclave.
O caso lança nova luz sobre os bastidores do Vaticano, em um momento delicado de transição e disputa pelo futuro da liderança da Igreja Católica.