Papa simplificou o próprio funeral e será enterrado em caixão simples de madeira

O papa Francisco, que faleceu nesta segunda-feira (21) aos 88 anos, terá um funeral marcado por simplicidade e simbolismo — características que definiram todo o seu pontificado. Em vida, ele já havia deixado instruções para que suas exéquias rompessem com tradições seculares da Igreja, buscando valorizar mais a fé cristã do que o poder institucional.

Pela primeira vez em mais de um século, um papa não será sepultado na Basílica de São Pedro, nem tampouco em um túmulo rodeado por mármore e cerimônias majestosas. Francisco será enterrado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma — igreja que frequentava com devoção desde seus tempos como cardeal e que visitava após cada viagem apostólica.

“Quero ser sepultado em Santa Maria Maggiore por causa da minha grande devoção”, disse Francisco em 2023 à jornalista mexicana Valentina Alazraki.

Com isso, o pontífice argentino se torna o primeiro papa a ser enterrado fora do Vaticano desde Leão XIII, em 1903.

Rituais simplificados: caixão único e corpo exposto de forma discreta

Francisco também abriu mão de outro símbolo tradicional do sepultamento papal: os três caixões (de cipreste, chumbo e carvalho) usados historicamente para sepultar pontífices. Ele optou por um único caixão de madeira, revestido com zinco.

Ao invés de ser exposto em uma plataforma elevada dentro da Basílica de São Pedro, como foi feito com seus antecessores, o corpo de Francisco permanecerá dentro do caixão, com a tampa aberta, para que os fiéis possam prestar suas últimas homenagens com discrição e recolhimento.

Essas decisões foram formalizadas no novo “Ordo Exsequiarum Romani Pontificis”, aprovado por Francisco em 29 de abril de 2024, menos de um ano antes de sua morte.

“O papa pediu para simplificar os ritos, de forma que a celebração das exéquias expressasse melhor a fé da Igreja em Cristo Ressuscitado”, explicou o arcebispo Diego Ravelli, Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias.
“O funeral do Romano Pontífice é o de um pastor e discípulo de Cristo, não de uma figura poderosa deste mundo.”

Um papa que quebrou protocolos até o fim

Desde o início de seu pontificado em 2013, Francisco optou por um estilo mais austero. Recusou-se a morar no luxuoso Palácio Apostólico e viveu até o fim na modesta Casa Santa Marta, dentro do Vaticano. Chamava-se, com ironia, de um papa “engaiolado”, e por isso buscava se aproximar das ruas, dos pobres e dos marginalizados.

A escolha de Santa Maria Maior como local de seu repouso final também tem profunda conexão espiritual. Além de ser um dos principais templos marianos de Roma, foi ali que Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus — ordem à qual Francisco pertence — celebrou sua primeira missa em 1538.

Com esse último gesto, Francisco fecha um ciclo de reforma e despojamento. Em sua morte, assim como em sua vida, ele reafirma que o papel do papa é, antes de tudo, o de servo: um homem entre os homens, guiado pela fé e pelo compromisso com os mais humildes.

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Bruno Rigacci

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