Revelado o verdadeiro motivo por trás da prisão do General Braga Netto
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de decretar a prisão do general da reserva Walter Braga Netto, na manhã deste sábado (14), gerou grande repercussão no cenário político brasileiro. A medida foi fundamentada em investigações que indicam a tentativa do general de obter informações sigilosas sobre a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com a Polícia Federal, a ação de Braga Netto teria como objetivo obstruir o andamento da investigação e, portanto, configuraria uma tentativa de obstrução de Justiça. O fato teria ocorrido após a delação de Mauro Cid à PF, em setembro de 2023, e foi confirmado em uma audiência de Cid com a polícia no dia 21 de novembro. A prisão foi decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, que investiga os possíveis envolvidos na tentativa de golpe de Estado ocorrida em janeiro deste ano, quando milhares de manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília.
A decisão de Moraes aponta que Braga Netto teria mantido contatos com o pai de Mauro Cid, o general Mauro César Lourena Cid, com o intuito de obter detalhes da colaboração premiada de Cid e controlar as informações que seriam repassadas à Polícia Federal. Além disso, a investigação revelou que o general e seus assessores estariam tentando, de alguma forma, influenciar o curso da investigação.
“Os contatos [de Braga Netto] tinham a finalidade de obter dados sigilosos, controlar o que seria repassado à investigação e, ao que tudo indica, manter informado os demais integrantes da organização criminosa”, aponta a decisão do ministro Alexandre de Moraes, na qual também são destacadas evidências que indicam que a conduta de Braga Netto visava impedir o avanço das apurações.
A decisão também faz referência a documentos encontrados pela Polícia Federal durante a operação “Tempus Veritatis”, deflagrada em fevereiro deste ano. Na ocasião, foram encontrados papéis com perguntas e respostas relacionadas à delação de Mauro Cid, que estavam sob a mesa do coronel Flávio Botelho Peregrino, assessor de Braga Netto, no escritório do Partido Liberal (PL), de onde o general tem fortes vínculos.
O documento continha questionamentos que, segundo as investigações, teriam como objetivo entender os depoimentos prestados por Mauro Cid à PF, para antecipar o teor de sua colaboração e possivelmente moldar as respostas a serem dadas na delação. A Polícia Federal identificou esses documentos durante as buscas, o que reforçou as suspeitas de que a tentativa de obstrução da Justiça estava em curso.
Em depoimento à PF, Mauro Cid confirmou que, após a sua soltura, tanto o próprio Braga Netto quanto outros intermediários tentaram descobrir o conteúdo de sua colaboração. “Basicamente isso aconteceu logo depois da minha soltura, quando eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado”, afirmou Cid, corroborando as investigações.
A prisão de Braga Netto é vista por muitos como parte de um movimento maior para vincular a figura do ex-presidente Jair Bolsonaro às investigações sobre a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro, quando os manifestantes, em apoio a Bolsonaro, atacaram os prédios do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.
A narrativa de que o “sistema” estaria tentando envolver qualquer pessoa próxima ao ex-presidente em um esquema de desestabilização do governo de Luiz Inácio Lula da Silva também foi amplamente defendida por aliados de Bolsonaro, como o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que emitiu declarações criticando o processo.
Tensão Política e Repercussões
A prisão de Walter Braga Netto reacende a polarização política no Brasil, com figuras próximas ao ex-presidente Bolsonaro denunciando um suposto uso político das investigações, que visam atingir Bolsonaro e seus aliados. O senador Hamilton Mourão, por exemplo, se manifestou nas redes sociais, afirmando que a prisão de Braga Netto é parte de uma tentativa de “envolver qualquer narrativa possível para atingir o ex-presidente Jair Bolsonaro”. Mourão, que também foi vice-presidente no governo Bolsonaro, criticou duramente a condução das investigações e sugeriu que elas têm uma motivação política.
Enquanto isso, as investigações sobre o 8 de janeiro e a possível participação de setores das Forças Armadas no episódio continuam a ser um ponto central no atual debate político. Com a prisão de Braga Netto, as tensões aumentam, e o cenário permanece incerto, com a oposição e aliados de Bolsonaro ainda divergindo sobre o que realmente aconteceu no dia da invasão dos Três Poderes.
Até o momento, não há mais informações sobre os próximos passos da investigação, mas a prisão do general marca um novo capítulo na apuração dos acontecimentos de janeiro e das possíveis articulações de figuras próximas a Bolsonaro durante o período de transição de governo.