A “ameaça” de Fernando Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece ter entendido que seu pacote fiscal não conseguiu apaziguar os mercados financeiros. Em uma tentativa de dar uma mensagem de seriedade, ele declarou que o atual pacote não é o “gran finale”, ou seja, que ainda há mais por vir, incluindo possíveis cortes de gastos. No entanto, essa postura pode ser vista como uma “ameaça”, pois, como o autor do texto sugere, o mercado já está precificando essas expectativas antes mesmo de qualquer medida ser anunciada.
O mercado financeiro funciona com base em expectativas e, muitas vezes, antecipa movimentos antes mesmo de serem concretizados. Quando o governo sugere que pode haver um novo pacote de corte de gastos, os investidores começam a se ajustar, refletindo essa expectativa no preço do dólar e de outros ativos. No entanto, uma “ameaça” de novas medidas pode ser vista com ceticismo, especialmente se os mercados começarem a perceber que as ações do governo não estão correspondendo às palavras.
A questão central aqui é o que o economista chama de “preferência revelada”. Ao invés de focar apenas nas declarações e promessas do governo, o mercado observa as ações concretas, como o governo age de fato. E, no caso do governo Lula, a preferência fiscal revelada até agora parece ser mais branda do que o mercado gostaria. Apesar das declarações de responsabilidade fiscal, as ações efetivas ainda não foram suficientemente convincentes.
O autor menciona que, antes da posse de Lula, havia uma percepção de que o governo manteria a responsabilidade fiscal, com base no histórico dos governos anteriores de Lula. No entanto, a cada anúncio que não corresponde às expectativas do mercado, essa confiança vai diminuindo. Isso ocorre porque, conforme o tempo passa, as ações do governo revelam suas verdadeiras intenções em relação ao equilíbrio fiscal.
Neste contexto, o mercado começa a considerar que, embora ainda existam agentes que acreditam que o governo possa tomar medidas sérias, a maioria dos investidores já começou a duvidar da eficácia dessas promessas. Os discursos de Haddad podem ter cada vez menos impacto, já que o mercado parece ter perdido a confiança nas intenções do governo.
Assim, mesmo que o governo Lula continue a lançar pacotes de medidas fiscais, o efeito sobre os mercados será cada vez mais limitado. O autor termina alertando para a “paciência marginal” do mercado, ou seja, a tolerância dos investidores em relação às promessas de cortes fiscais e responsabilidade fiscal do governo está diminuindo.
Conclusão: A reação dos mercados a qualquer novo anúncio do governo será cada vez mais cética, e as “ameaças” de Haddad sobre novos pacotes fiscais provavelmente terão menos efeito, à medida que os investidores se baseiam cada vez mais nas ações concretas do governo, e não em suas palavras.
Marcelo Guterman. Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper.