Esquerda pede demissão de José Múcio após negar golpe em 8 de janeiro

Deputados do Partido dos Trabalhadores (PT) estão exercendo pressão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a demissão do ministro da Defesa, José Múcio, após suas polêmicas declarações durante uma entrevista ao programa Roda Viva, na última segunda-feira (10). Durante a conversa, Múcio afirmou que “nunca houve ameaça de golpe com GLO” (Garantia da Lei e da Ordem), desqualificando a tese de que os eventos de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram os prédios dos Três Poderes em Brasília, constituíram uma tentativa de golpe de Estado.

Fala gera apoio da direita e revolta na esquerda

As palavras de Múcio foram interpretadas como uma vitória para a direita, que desde o início defende que os acontecimentos de 8 de janeiro não devem ser vistos como uma tentativa de golpe. Para a oposição, a fala do ministro ajudou a reforçar essa visão, o que gerou indignação entre os parlamentares mais radicais da esquerda. Eles consideraram o posicionamento de Múcio incompatível com a narrativa do governo, que considera os eventos de janeiro como uma tentativa clara de golpe contra a democracia.

Além disso, o ministro também defendeu a libertação dos presos envolvidos nos atos, especialmente daqueles que tiveram menor participação. Ele afirmou que a soltura dessas pessoas seria um gesto de pacificação no país. “Eu acho que na hora que você solta um inocente ou uma pessoa que não teve um envolvimento muito grande (no 8 de janeiro), é uma forma de você pacificar o País. Esse País precisa ser pacificado. Ninguém aguenta mais esse radicalismo”, declarou Múcio, sugerindo que a medida ajudaria a diminuir a polarização política no Brasil.

Pressão por demissão aumenta

As declarações de Múcio não foram bem recebidas por setores mais ideológicos do PT e por membros da base aliada do governo. De acordo com informações da CNN, parlamentares petistas estão pressionando Lula para que o ministro seja demitido, alegando que ele, na verdade, está mais alinhado com a oposição do que com o próprio governo. A insatisfação com o ministro reflete também um mal-estar interno no governo, pois Múcio, que é visto como um elo entre o Planalto e as Forças Armadas, desempenha um papel estratégico em um momento de grande tensão política.

No entanto, suas declarações recentes foram interpretadas como uma tentativa de agradar à direita, o que enfraqueceu sua posição dentro do governo e gerou desconforto entre seus aliados mais progressistas.

Risco de desestabilização política

A possível demissão de José Múcio poderia gerar uma crise no relacionamento entre o governo e as Forças Armadas, um dos grupos com maior poder de influência no cenário político nacional. Para Lula, a decisão de manter ou demitir o ministro é um dilema complicado, pois precisa balancear as pressões de sua base mais radical com a necessidade de manter a estabilidade política com as Forças Armadas.

Neste cenário, a oposição já começa a comemorar as falas de Múcio, vendo-as como uma confirmação de que a narrativa de golpe está sendo exagerada, e que os eventos de 8 de janeiro devem ser tratados de maneira equilibrada, sem que se configure uma perseguição política.

Agora, Lula enfrenta uma difícil escolha entre seguir as demandas de sua base mais à esquerda ou preservar o relacionamento estratégico com os militares, que continuam a ter forte influência sobre a política do país.

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Bruno Rigacci

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